A Morte de Gabrielle

por Ferdi

DISCLAIMER: Os personagens de Xena e Gabrielle são marca registrada da MCA/Universal e Renaissance. Elas são usadas aqui sem intenção de lucro ou de infringir as leis de copyright. O resto da história é de Ferdi e nenhum aspecto original desta poderá ser utilizado em outro lugar sem prévio consentimento, por escrito, da autora. Essa história não poderá ser alterada e esta informação sobre direitos autorais deve sempre aparecer com a mesma.


Cap. I

Para Xena, aquele dia era como qualquer outro. O céu, como sempre, descartava qualquer possibilidade de chuva.

"O perfeito dia para uma luta." - são os pensamentos que passam pela mente da guerreira enquanto Gabrielle se aproxima.

"Xena? Podemos parar para descansar?"

Pega de surpresa por aquele pergunta, Xena se vira para Gabrielle. "Claro! Está cansada?"

A resposta da barda foi apenas um breve e rápido movimento com a cabeça. Logo depois ela já se encontrava assentada em uma pedra, descansando os cotovelos sobre os joelhos.

"Gabrielle? Tem alguma coisa errada?" - pergunta Xena, mesmo sabendo qual seria a resposta da amiga. Havia algo perturbando a jovem e a guerreira sabia disso.

"Gabrielle?" - insiste Xena que se encontrava ajoelhada ao lado da amiga. "Gabrielle! Diga alguma coisa!"

Após muita insistência, a jovem olha para Xena que acabou por não reconhecer aquele olhar. "Xena! Não tem nada errado! Eu só estou cansada! Estamos andando há mais de 2 horas, sem parar! Você acha que eu não estou cansada?"

Xena, que nunca esperava por aquela reação repentina, abaixa a cabeça. Pela primeira vez ela não sabia o que dizer.

"Olha Xena, você não é a única que se cansa. Eu mereço um descanso também." - continua Gabrielle.

"Você está certa Gabrielle. Eu sempre penso em mim. Como você sabe, sou uma pessoa egoísta."

Dizendo isso, Xena se levanta. Suas últimas palavras, de alguma forma, soaram bastante sinceras até mesmo para Gabrielle que não queria começar aquela discussão. "Não Xena! Eu não quis dizer isso. Você não é egoísta. Bom, talvez só um pouquinho." A barda sorri para Xena que não deixa por menos. "Oh... obrigada minha Rainha Amazona. Eu realmente queria ouvir isso."

"Eu sei..."

Mesmo sabendo que Gabrielle não havia sido totalmente sincera, Xena sabia que a melhor coisa a fazer seria encerrar aquela discussão. Ela nunca poderia forçar Gabrielle a dizer algo se ela não estivesse disposta.

Cap. II

Após duas horas de descando, Xena, que estava encostada contra o tronco de uma árvore, se levanta. Ela olha para Argo e então para Gabrielle. A jovem estava deitada perto da guerreira. Seus olhos, totalmente fechados, indicavam que ela estava tendo um sono tranquilo. Xena olha fixamente para sua melhor amiga, esperando por um pequeno movimento que pudesse ser utilizado como desculpa para acordá-la. Mas mesmo quando isso acontece, a guerreira decide deixá-la dormir um pouco mais.

Ao abrir os olhos, Xena imediatamente olha à sua volta, na direção de Gabrielle. A jovem continuava lá, na mesma posição que a guerreira a havia visto antes de ser pega pelo sono. "Gabrielle? Você está acordada?" Segundos depois, ouvia-se a resposta. "Sim Xena..."

"Está pronta para continuar? Ou quer descansar mais algumas horas?"

"Não, eu estou bem." - diz a jovem que se preparava para levantar.

"Tem certeza?"

Incomodada com tanta preocupação, Gabrielle olha para Xena. "Xena! Eu estou ótima! Sério!"

"Ok, ok! Vamos indo então."

Xena sorri para Gabrielle antes de montar em Argo, mas a verdade é que ela estava preocupada com sua amiga. Há três anos, a guerreira pensava somente em si mesma. Ela sempre se preocupou com a barda, mas nunca permitiu que ela soubesse disso. Agora, Xena procurava pelo motivo que levava Gabrielle a seguí-la. Mesmo colocando sua vida em risco, a jovem sempre esteve ao seu lado.

"Vamos logo! Eu não vou esperar o dia todo!" - dizia Xena que tinha sua mão extendida na direção de Gabrielle.

"Você deve estar brincando, certo?" - pergunta a jovem, sem acreditar que iria montar com a guerreira.

"Não Gabrielle, agora anda logo."

Um sorriso aparece no rosto de Gabrielle quando Xena a ajuda a montar em Argo. Ela nunca imaginou que algum dia, estaria cavalgando com a guerreira.

"Só não nos deixe cair, ok?" - brincou Xena que sabia do medo que a jovem tinha de cavalos.
 

"Ok, eu vou tentar. Por falar nisso Xena, por que eu não tenho meu próprio cavalo?"

"Bom, porque você não está pronta para ter um."

"Ei! O que você quer dizer com isso?" - pergunta Gabrielle que inesperadamente, acaba puxando as rédeas de Argo.

"Whoa! Vai com calma Gabrielle!"

"Xena! Não muda de assunto! Por que eu não posso ter meu próprio cavalo?"

"Por causa daquilo... por causa do que você acabou de fazer."

"O que? Xena, do que você está falando? Essa foi a pior desculpa que você podia ter inventado!"

"Ok, ok... eu acho que Argo precisa de um namorado.

"Sério?"

"Sim."

"Ótimo! Nós podemos comprá-lo na próxima vila! O que acha?"

"Claro, mas será você quem vai pagar por ele."

"Ohh verdade? Pensei que você iria me dar um presente..."

"Gabrielle! Não começa!"

"To brincando Xena! Relaxa!"

"Relaxar? Como eu posso relaxar com você guiando Argo?" - diz Xena com um tom sarcástico.

"Por que? Você está com medo?"

"Você quer a verdade? Sim, eu estou."

"Eu não sei por que... eu sou a melhor amazona e-"

Antes que Gabrielle pudesse terminar sua frase, Argo para repentinamente, fazendo a jovem cair exatamente em uma poça de lama. Já Xena, que continuava montada em Argo, esforçava-se para não rir daquela cena.

"O que você dizia Gabrielle?"

"Oh Xena, cala a boca, tá?" - dizia Gabrielle enquanto se levantava da lama e limpava a roupa com as mãos. "Não diga uma palavra!"

"Então? Você ainda quer um cavalo ou-"

Sem permitir que Xena continuasse com aquela brincadeira, Gabrielle a interrompe. "Ohhh Xena! Você realmente sabe como me irritar!"

"Quer tentar de novo?" Xena extente sua mão na direção de Gabrielle que por um momento, hesita em segurá-la. Mas ela não pretendia desistir tão facilmente. Ela sabia o que a guerreira estava querendo fazer, mas isso não iria acontecer. "Certo." Dizendo isso, a jovem segura a mão de Xena que imediatamente a puxa para cima de Argo. "Dessa vez, tente segurar as rédeas com firmeza."

"Eu sei o que estou fazendo Xena..."

"Sabe mesmo? Tá certo... pronta?"

Ignorando aquelas palavras, Gabrielle toma a rédea das mãos da guerreira. "Vamos lá Argo... nós não queremos desapontar sua dona, certo?" Levemente, a jovem acaricia o pescoço do cavalo e em pouco tempo, o trio galopa floresta a dentro.

Cap. III

Era noite e as duas amigas se encontravam deitadas próximas à fogueira. Xena já estava dormindo, mas o mesmo não acontecia com Gabrielle. Havia algo errado. Algo que ela precisava conversar com a guerreira enquanto ainda era tempo.

"Xena?"

Não obtendo uma resposta, Gabrielle fecha os olhos e se ajeita na coberta, procurando por uma posição que a deixasse comfortável. Ela teria tempo para conversar com Xena pela manhã...

Em seus sonhos, Gabrielle viu Perdicas e Callisto. A imagem da Deusa matando seu marido parecia acontecer em câmera lenta. Ela tentava gritar, mas nenhum som saia de sua boca. E Callisto continuava lá, sua espada coberta com sangue, com o sangue de Perdicas. A jovem ainda tentava se mover, mas por algum motivo ela não conseguia. Como último esforço, ela chamava pelo nome de Xena que aparecia segundos depois. E era nesse mesmo momento que começava uma luta. Uma luta entre a pessoa que Gabrielle mais odiava e a que mais amava. A barda olhava de relançe para o corpo de Perdicas que continuava no chão, imóvel, quando inesperadamente ouvi-se um grito. Os olhos da jovem se arregalavam e seu coração parecia parar de bater quando ela percebeu que aquela era a voz de Xena. A barda olhava para Callisto ao mesmo tempo que sentia um ódio incomum, contaminar seu corpo. Xena estava ajoelhada na frente da Deusa que tinha sua espada cravada dentro da guerreira. "Não!!! Xena!!!"

A única reação de Gabrielle foi a de correr até a amiga, mas era tarde demais. O corpo da guerreira desabava ao chão, aparentemente sem vida. "Está vendo Gabrielle? Ninguém pode me vencer... nem mesmo Xena." Callisto aproximava-se da jovem e segurava-a pelo braço. Para sua surpresa, a barda não reagiu. "Agora... sua vez... diga olá a Xena. Ela deve estar esperando por você Gabrielle... ou talvez nao. Você é tão inocente, não faz a mínima idéia das coisas que Xena fez. Você nunca irá vê-la novamente. Nem mesmo após a sua morte."

"Você está certa Callisto. Você pode me matar, mas não irá vencer. Talvez eu não veja Xena novamente, mas você sim. E quando esse dia chegar, eu estarei observando quando ela bater nessa sua cara horrível."

"Ohhh... eu estou tremendo... mas sabe de uma coisa Gabrielle? Eu não vou matar você. Não agora. Você vai ver como é a vida sem Xena. E aposto que não vai gostar nem um pouquinho..." - dizia Callisto com um sorriso demoníaco nos lábios. "Você me dá nojo Callisto..."

"Obrigada Gabrielle. Vindo de você, posso considerar isso um elogio."

E antes que Gabrielle pudesse dizer qualquer coisa, Callisto desaparecia. A jovem se via sozinha, no meio das únicas pessoas que ela realmente amou. Ela se ajoelhava ao lado de Xena e gentilmente, levantava a cabeça da guerreira, colocando-a sobre seu colo. "Ei..." Como se sentisse a presença de Gabrielle, Xena abria seus olhos. "Gabrielle, me desculpe..."

"Não Xena, não foi culpa sua..." A jovem olhava para a amiga, procurando por qualquer ferimento. E infelizmente, ela o encontrava. Uma grande e aberta ferida no estômago da guerreira. Ao ver aquilo, Gabrielle fechava seus olhos. "Ei, não se preocupe... eu vou sobreviver e--" Ao perceber que Xena parava de falar, a jovem abriu seus olhos. Dessa vez, eram os olhos da guerreira que estavam fechados, além do fio de sangue que corria pelo canto de sua boca. "Xena? Pelos Deuses, não... por favor não! Xena? Olha pra mim! Não se atreva em me deixar! Xena!!! Acorda!" Gabrielle segurava o ombro da amiga, balançando-a com cuidado e rezando para vê-la abrindo os olhos. Mas isso não iria acontecer e ela sabia disso.

Cap. IV

"Gabrielle? Gabrielle, acorda. Precisamos ir!"

Subitamente os olhos de Gabrielle se abrem e um sorriso surge no seu rosto quando ela percebe que Xena estava na sua frente. Imediatamente, e sem uma explicação, a barda se joga nos braços da guerreira que não entende o por que daquilo tudo.

"Gabrielle? O que houve?"

"Oh Xena, eu tive um sonho terrível... você morreu e eu estava sozinha... sem nenhum lugar pra ir..."

"Ei, está tudo bem agora... eu estou aqui, está vendo?" Gentilmente, Xena dá um tapinha no rosto de Gabrielle, chamando sua atenção.

"Está vendo?"

"To, você está ai." - diz a bard com um sorriso inocente.

"Mas me diga. Quem me matou?"

"Callisto."

"Callisto?" Sem acreditar nas palavras de Gabrielle, Xena começa a rir.

"Eu não acho engraçado."

"Me desculpe Gabrielle... mas não existe possibilidade da Callisto ter me matado."

"Você diz isso porque não teve o mesmo sonho que eu."

"Olha Gabrielle, você não tem que se preocupar com isso, ok? Eu nunca vou deixar você e muito menos deixar que algo te aconteça."

"Eu sei Xena... mas quem sabe? Nós não podemos prever o futuro. E se algo acontecer comigo? Eu tenho que ter certeza que você não vai..."

"Que eu não vou?" Xena levanta uma de suas sobrancelhas, esperando pela resposta de Gabrielle.

"Que você não vai fazer nada errado de novo."

"Nada vai acontecer com você Gabrielle." - diz Xena como se tivesse certeza de suas palavras. Ela força um sorriso e se vira, pronta para se levantar. Na verdade, a guerreira não queria falar sobre aquilo. A alguns anos ela tem pensando nisso, mas não conseguia aceitar o fato de viver sem a amiga.

"Mas e se acontecer?" Gabrielle segura a mão de Xena, impedindo-a de se levantar. Ela tinha que saber que a guerreira ficaria bem sem ela.

"Olha Gabrielle, nós não devemos pensar no futuro. Vamos pensar no agora, ok? E eu não quero falar mais sobre isso."

"Por favor Xena, eu preciso saber."

"Bom, eu não sei o que eu faria sem você Gabrielle."

"Você nunca pensou nisso?"

Dessa vez Xena não responde. Será que Gabrielle não conseguia perceber que ela não queria continuar com aquela conversa?

"Xena?"

"Não Gabrielle! Eu nunca pensei nisso e nem quero! Por que você está me perguntando isso?"

"Porque eu tive uma sensação... e como eu nunca tinha pensando nisso antes, achei que seria uma boa hora pra perguntar."

"Que sensação?"

"Eu não sei explicar... mas você tem que me prometer Xena. Se alguma coisa acontecer comigo, prometa que não vai deixar seu lado negro tomar conta de você..."

"O que? Gabrielle!"

"Por favor Xena... eu estou te implorando..."

"Oh, ok! Eu prometo."

"Você jura?"

"Gabrielle! Você está indo longe demais!"

"Eu sei Xena. Mas se você jurar, eu não falo mais sobre isso."

"Eu juro. Satisfeita?"

"Agora eu estou."

Cap. V

Logo depois da conversa que as duas amigas tiveram, tudo havia voltado ao normal. Como prometido, a barda não tocou mais no assunto que a guerreira odiava falar sobre. Agora, Gabrielle não precisava se preocupar se a guerreira manteria sua palavra. Ela tinha certeza que isso aconteceria.

A noite chegou mais rápido que o normal e como sempre, Xena havia sido a responsável na escolha do local onde  passariam a noite. Quando tudo estava devidamente arrumado, as duas amigas assentaram próximas à fogueira.

"O que vamos fazer amanhã? Alguma missão nova? "

"Não que eu saiba. Eu estou pensando em ir pra Potédia. O que você acha? "

"O que? Eu... por que? "

"Eu já mandei uma mensagem pra sua família avisando da sua chegada. Achei que você gostaria de vê-los. "

"É, seria bom." Gabrielle olha para Xena por um momento, procurando entender por que ela havia feito aquilo. "Mas por que? Por que fez isso? Você sabe que meus pais não gostam muito de você."

"Bom Gabrielle, eu estava pensando... nós precisamos de férias. Além disso, seus pais não são os únicos que não gostam de mim. "

"Suponho que você não vai ficar comigo?" - pergunta Gabrielle, mesmo sabendo o que Xena iria dizer.

"Não, eu não vou. Eu prometi visitar Hercules. De qualquer forma, eu tenho certeza que não vai precisar de mim. "

"Tá, claro, tudo bem."

Mas aquela não havia sido a resposta que Xena esperava. Ela sabia que o pai de Gabrielle não gostava de sua presença, por isso preferiu que a amiga fosse sozinha.
 

"Nós nos encontramos em uma semana, ok?"

"Uma semana? Ha! Você não vai conseguir ficar com Hercules esse tempo todo! "

"O que? Por que não?"

"Eu conheço você Xena... você sempre acaba discutindo com ele... não aceita o fato dele ser..."

"Ser o que? "

"Bom, melhor que você?"

"Melhor que eu? O que quer dizer?"

"Vamos ser realistas Xena. Hercules é homem. Você não pode vencê-lo nos seus jogos!" - dizia Gabrielle que na verdade, só queria irritar a amiga.

"Gabrielle!"

"Não estou certa?"

"Não vou discutir isso com você."

"Tá vendo? Você sempre muda de assunto quando eu estou certa. Você só não admite isso."

"Tá bom Gabrielle... vamos dormir agora, ok?"

"Por que você não admite Xena? Você não consegue mentir... estou vendo chamas saindo dos seus olhos e-"

"Fica quieta Gabrielle! Não são suas palavras que estão me deixando nervosa... e sim sua voz!"

"Ok! Ok! Eu estava brincando Xena!"

"Ah estava... eu te conheço Gabrielle... e pra sua informação, eu posso ganhar de Hercules se quiser."

"Claro! Claro que pode!" Gabrielle se vira para Xena e sorri ao ver que a guerreira estava murmurando palavras sem sentido. Na verdade, ela gostava de chatear a amiga. Quando isso acontecia, ambas sabiam que tudo ficaria bem.

Cap. VI

A manhã havia chegado tão rápido como a noite. Gabrielle já estava ao lado de Argo, dando-lhe uma suculenta e bela maçã. "Xena? Nós vamos chegar antes de anoitecer?"

"Se você correr..."

"Correr??? Por que?" Gabrielle pergunta enquanto se vira para a guerreira que a encarava com um olhar maldoso. A jovem, reconhecendo aquele olhar, balança a cabeça, pronta para reclamar.

"Ah não! Você não vai fazer isso comigo!"

"Por que não? Argo está cansada... ela não aguenta mais de uma pessoa dessa vez."

"Oh e por que você não pode ir andando dessa vez?"

"Porque o cavalo é meu?"

"Isso não é desculpa... por que não pode me deixar montar?"

"Desculpe Gabrielle, mas Argo me contou que você tentou persuadi-la."

Ao ouvir isso, a jovem lança um olhar fulminante para a égua na sua frente, afastando a maçã de sua boca.

"O que? Você disse a ela depois de tudo que fiz por você? Ohhh você é igualzinha a sua dona!"

"Relaxe Gabrielle... veja pelo lado positivo... você pode perder um pouquinho mais de peso."

"O que?" A barda observa Xena montar em Argo com um olhar questionador no rosto. "Xena, você é a pessoa mais egoísta que eu já conheci!"

"Eu disse que era..." Dizendo isso, a guerreira olha para Gabrielle, encarando-a com um cínico sorriso. "Pronta?" Sem respoder àquela pergunta, a jovem apenas lança um sorriso bobo pra amiga.

Cap. VII

Ao chegar em Potédia, Xena desce de Argo e olha para trás, esperando por Gabrielle. Não muito longe estava a jovem, andando em passos curtos, com uma expressão de cansaço no rosto.

"Anda rápido Gabrielle! Eu disse que chegaríamos antes de anoitecer!"

Ao se aproximar, a jovem se apoia nos ombros da guerriera, tentando recuperar seu fôlego.

"Ohhhh... eu vou morrer... eu preciso de uma cama..."

"Não foi tão difícil assim... você está em ótima forma para uma barda."

"Ha ha ha... você é tão engraçada Xena."

"Eu estou falando sério! Olha! Você não está tão ruim... só um pouquinho."

"É mesmo? Olha pra mim! Olha o meu cabelo! E os meus braços? Os insetos me comeram viva!" Gabrielle mostra seu braço para a guerreira. "Você ainda tem a coragem de dizer que eu estou bem?"

 "Que isso Gabrielle, não é nada sério... e você ainda pode usar isso como desculpa..."

"Oh sério? Pra que?"

"Pra tomar um banho."

"Ohhhh... vai embora Xena! Você está começando a me encher!" Gabrielle dá um empurrão em Xena, que só consegue rir da atitude da amiga. "Aliás, eu já tomei banho." A barda olha vingativamente para Argo. "Quando seu belo cavalo me empurrou dentro daquele lago!"
 

"Nem pensar! Aquilo foi um acidente! Não culpe Argo pelo que aconteceu."

"Oh claro, eu devia estar fazendo isso com você!"

Tentando achar uma maneira de se livrar daquele "problema", Xena monta em Argo. "Te vejo em uma semana. E não se meta em confusões!"

"Claro..." - disse Gabrielle que parecia desanimada com aquelas férias.

"Vamos lá Gabrielle, qual o problema? Não pode viver sem mim?"

"Isso é o que VOCÊ pensa."

"Ei, coloca um sorriso no rosto que eu te trago um presente."

"Ok, ok... vai embora."

Xena sorri para a amiga antes de se afastar dos portões de Potédia. Já Gabrielle permanece parada, observando sua melhor amiga sumir de sua visão.

"Uma semana!" A barda grita antes de seguir para a casa de seus pais.

Cap. VIII

Uma semana se passou e como combinado, Xena se dirigia de volta a Potédia. Como Gabrielle havia dito, ela teve outra discussão com Hercules. Não tão séria como as outras, mas dessa vez, ela havia saído vitoriosa.

Ao avistar os portões de Potédia, a guerreira sorri. Era bom estar de volta.

Após acomodar Argo e o presente de Gabrielle no celeiro, Xena seguiu para a casa da amiga. As pessoas, como sempre, encaravam a guerreira com repugnância. Era esse um dos motivos que fizeram Xena "abandonar" Gabrielle por uma semana. Mas por outro lado, haviam pessoas que olhavam amavelmenta para ela. A guerreira podia jurar que aqueles eram olhares de mágoa e dor.

Chegando na casa dos pais de Gabrielle, a primeira pessoa que Xena viu, foi Lilla. A garota estava com a cabeça abaixada, escondida entre as pernas.
 

"Lilla?"

Reconhecendo a voz de Xena, a garota olha para a guerreira que estranha ao notar lágrimas em seu rosto.

"Lilla? O que houve?"

Sem respoder àquela pergunta, Lilla corre na direção de Xena, dando-lhe um forte abraço.

"Ei, o que está acontecendo aqui?" Xena pergunta enquanto segura o rosto de Lilla com ambas as mãos, fazendo-a olhar para cima.

"É Gabrielle..."

"O que? O que aconteceu?"

"Ela está morrendo Xena..."

"O que? Lilla, o que você está dizendo?"

"Aconteceu uma coisa... ela estava discutindo com meu pai... eles estavam discutindo sobre você Xena. Gabrielle respondeu papai de uma que ele não gostou... ele começou a falar um monte de coisas e... pelos Deuses Xena, ele a matou! Ele a matou!"

Sem acreditar naquelas palavras, Xena entra na casa dos pais de Gabrielle. Ela chama pelo nome da amiga, mas quem acaba vendo é Horace. O rosto da mulher indicava que ela havia passado as últimas horas chorando.

"Ela está esperando por você. Disse que não vai morrer antes de vê-la."

"Onde ela está?"

"No quarto..." - diz a mulher enquanto conduzia Xena até o quarto de Gabrielle.

Ao ver a jovem, Xena sente um aperto no coração. Os olhos da barda estavam fechados e seu rosto era de uma palidez incrível.

"Pelos Deuses..." - murmurou a guerreira enquanto se ajoelhava ao lado de Gabrielle e segurava uma de suas mãos. Surpreendentemente, a barda abre seus olhos, como se soubesse que Xena estava ali.

"Eu sabia que era você."

"Como está se sentindo?" Só depois que fez essa pergunta é que Xena percebeu o quanto idiota ela havia sido.

"Não muito bem, mas... eu queria te ver mais uma vez antes de-" Antes que pudesse terminar a frase, a guerreira coloca a mão sobre a boca da amiga, impedindo-a de continuar.

"Gabrielle, olha pra mim... você não vai morrer, ok? Não pode me deixar... não desse jeito."

"Sim eu posso..."

"Não diga isso Gabrielle. Você não pode desistir! Você nunca desistiu de nada em toda sua vida! Por que agora?"

"Porque é hora... você me trouxe de volta uma vez Xena. Não pode fazer isso de novo."

"Por que? Você não quer mais viver? É isso? É assim que vai me deixar? Deitada em uma cama?"

"Eu não vejo um modo melhor..." Gabrielle força um sorriso para Xena que continuava séria.

"Você não pode me deixar Gabrielle. Nós ainda temos muita coisa pra fazer! Você é muito nova, tem uma vida toda pela frente!"

"Xena, os Deuses não escolhem quem irá morrer pela idade... você sabe disso."

"Mas... eu te trouxe um cavalo! Você não pode morrer!"

Então, pela primeira vez, um brilho de esperança surge nos olhos da jovem.

"Você o comprou?"

"Sim, eu te prometi um presente, lembra? Por isso você não pode morrer."

"Por que? Porque eles não aceitam devolução?"

"Gabrielle, pare de brincar..."

"Olha Xena, eu só..." A bard é impedida de continuar falando quando sente uma forte pressão sobre seu peito. A guerreira viu quando uma expressão de dor apareceu no rosto da amiga. Seu corpo estava suando e começava a tremer.

"Não se preocupe, vai passar em um minuto..."

"É tudo culpa minha, não é?"

"O que? Não Xena! De onde você tirou essa idéia? Quem te disse isso?"

"Lilla disse que você teve uma dicussão com seu pai... sobre mim."

"Não Xena! Por favor, não pense nisso! Não foi culpa sua!"

"Não?"

"Não! Todos os dias que passamos juntas... foram os melhores de minha vida! Eu não quero morrer sabendo que você se sente culpada pelo que me aconteceu."

"Então você não vai morrer."

"Xena, eu estou falando sério! Lembra da nossa promessa?"

"Gabrielle... não..."

"Lembra?"

"Lembro."

"Você vai mantê-la, certo?"

"Eu venci Hercules em um de seus jogos! Você disse que eu não podia mas--"

"Você está fazendo de novo..." - disse Gabrielle que parecia extremamente cansada.

"O que?" 

"Xena, me escuta. Tem coisas na vida que acontecem... eu não culpo meu pai pelo que ele fez. Mas você tem que aceitar os fatos. Por mais que machuque ou que pareça difícil..."

"Então é assim? É esse o modo que vai me deixar?"

"Sim... eu posso morrer em paz agora."

"Gabrielle, para com isso... você não..." A guerreira para de falar quando nota que a amiga esforçava-se para não chorar.

"Oh Xena. Eu não quero morrer... eu não quero te deixar... mas eu tinha que saber que você iria manter sua promessa... eu queria que você soubesse que eu... que eu te amo Xena." Gabrielle sorri para Xena de uma forma nunca antes presenciada pela guerreira, fechando seus olhos logo em seguida. Dessa vez, a guerreira sabia que ela não voltaria a abri-los.

Lágrimas começam a escorrer do rosto de Xena enquanto o ódio começa a preencher seu coração. Ela fecha seus olhos e se levanta logo em seguida, inclinando-se sobre o corpo de Gabrielle para beijar-lhe o rosto. Inacreditavelmente um sorriso aparece no rosto da guerreira quando ela se lembra das palavras de Gabrielle. Pela primeira vez, ela não desejava vingança. Pela primeira vez ela não sentia a dor de perder um amigo. Pela primeira vez, ela podia chorar sem se importar em ser vista pelos outros... porque mesmo tento perdido sua melhor amiga, Xena sabia que Gabrielle sempre estaria cuidando dela.

"Eu também te amo Gabrielle."

FIM